Natal: heresia
(...) Deus deu o seu filho para o perdão dos pecados, em sacrifício. (...) O sacrifício expiatório na sua forma mais desprezível e bárbara, o sacrifício dos inocentes pelas faltas dos pecadores(...). Não tinha Jesus suprimido até a ideia do pecado? Não havia negado o abismo entre Deus e o homem, vivido essa unidade entre Deus e o homem, que era a sua boa nova? E isto não era para ele um privilégio? Desde então introduz-se a pouco e pouco no tipo do Salvador a doutrina (...) da morte por sacrifico, a doutrina da ressurreição que escamoteia toda a ideia de salvação, toda a só e única realidade do Evangelho a favor de um estado depois da morte... Paulo tornou lógica essa concepção com aquela insolência rabínica que o caracteriza: "Se Cristo não ressuscitou dentre os mortos, é vã a nossa fé". E de um só golpe converte-se o Evangelho na promessa irrealizável mais digna de desprezo, a doutrina insolente da imortalidade pessoal (...).
O autor deste trecho faz aqui uma violenta crítica do Cristianismo. A sua tese é que Jesus Cristo não teve glória na vida (foi um pregador rejeitado pelos judeus, impotente face ao invasor romano, foi preso sem resistir e viu o povo revoltar-se contra ele e os seus seguidores mais próximos fugirem apavorados) nem na morte (foi executado de modo humilhante) e que foi Paulo que conseguiu, com sucesso, através da doutrina da ressurreição, criar a fé de que a morte na cruz foi o triunfo de uma missão divina destinada a remir os pecados humanos visando a glória de Deus.
Quem defendeu tão heréticas teses e em que livro?
2 comentários:
Friedrich W. Nietzsche, "O Anticristo"
muito bem zep.
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